terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

CRÍTICA: DEPOIS DE LUCÍA


Depois de Lucía (2012). Roteiro e direção de Michel Franco. Com Tessa Ia e Gonzalo Vega Jr. Coprodução: México e França.


Depois de Lucía é um filme bastante delicado que retrata dois temas difíceis de serem bem trabalhados sem que se recorra a clichês: o bullying e a depressão. No entanto a película trata desses temas de maneira sutil e ao mesmo tempo incisiva, sem aquele ar afetado típico de melodramas com mensagens de superação. É um filme angustiante, e todas as opções estéticas utilizadas pelo diretor Michel Franco contribui para isso, por evitar o artificialismo. Ele faz questão de enquadrar belamente as cenas, mas mantém a câmera estática e fria, criando um quadro em que as vítimas sofrem e não podemos desviar nosso olhar e nem fazer nada para ajuda-las, salientado pela trilha sonora, que é o som de cada ambiente particular. Sentimos que o personagem Alejandra, interpretada lindamente pela jovem Tessa Ia, a partir do segundo ato do longa precisa de um momento de silêncio, um silêncio reconfortante, só dela, e torcemos para que ela o encontre, o que parece nunca acontecer, visto que no decorrer de tudo, o silêncio trás um quê de ameaça e de angústia. No entanto, ela o acaba encontrando, o que só ocorre no final, e este é seu protótipo de final feliz, em que não há realmente nada de grandioso. Seu final feliz não é devido a ela lutar pela sua dignidade, mas pela fuga de seus problemas. Mas paira no ar a incerteza, pois sabemos que aquele sentimento de segurança é algo efêmero e instável. Uma hora a realidade chama de volta.



Gonzalo Vega Jr. interpreta o pai de Alejandra, que após a morte de sua esposa Lucía (cujo nome jamais é mencionado, o que nos mostra que até o título é um detalhe a ser levado em conta, vide a obra-prima romena 4 meses, 3 semanas e 2 dias, cujas opções técnicas têm muito em comum com Depois de Lucía), revela traços de depressão, percebida por sua filha, e que parecem aumentar cada vez mais. Uma depressão que subverte muitas vezes a própria personalidade do sujeito, e que o leva a ter atitudes desconcertantes para nós em alguns picos de adrenalina por seu caráter questionável, que contradiz tudo o que percebemos sobre ele. Alejandra evita contar ao seu pai dos abusos que têm sofrido para evitar que ele piore. Trata-se de uma demonstração de amor, que no final das contas, levará a catástrofe. Só digo que a cena final é de arrepiar, que não deixará ninguém indiferente, levando ao aplauso de alguns espectadores e a repulsa de outros, dependendo da moral e índole de cada um.




Depois de Lucía é pois um filme provocador, muito bem resolvido em sua opção técnica e de mise-en-scène, principalmente entre os adolescentes. No entanto, apesar de todo o esforço para se criar um tom de realidade, a maneira como os adolescentes se tratam soa e ao mesmo tempo não soa orgânica, percebe-se ainda influências de certos clichês, embora as atuações soem naturais. Mas este é o único detalhe que precisaria ser melhorado. O filme em geral é muito convincente e merece ser assistido. É muito relevante.  


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